Se
você é estudante de alguma Licenciatura e é estagiário com
necessidade especial, este texto é para você!
Por:
Débora Rossini
Sabe-se
que estudantes de Licenciatura têm de fazer o Estágio
Supervisionado que é obrigatório. O MEC estipula que têm de ser
cumpridas 408 horas de atividades relativas a ele durante a graduação
- mas a distribuição semestral fica a critério de cada
universidade (na universidade em que estudo, para a Licenciatura em
Matemática são 4 semestres de 102 h cada, ao passo que tem
universidade que coloca, por exemplo, 2 semestres de 204 h cada).
Conforme
todos sabem, os estagiários têm direitos e deveres. Os deveres
estão listados no Termo de Compromisso assinado no início das
atividades de estágio - e incluem postura adequada a um ambiente de
trabalho, pontualidade, assiduidade, sigilo de tudo o que acontece no
ambiente de estágio (similar ao sigilo profissional de diversas
ocupações de trabalho), ética e respeito , dentre outros.
Entre
os DIREITOS, é só dar uma “googlada” que você encontra aí.
(Exemplos: a compatibilidade de horário com os estudos e o
não-prejuízo destes; seguro do estudante contra acidentes, que a
universidade deve fornecer; dentre outros.) No entanto, fiquei
pensativa: e quais são os direitos específicos do ESTAGIÁRIO COM
NECESSIDADES ESPECIAIS quando fazem disciplinas de estágio
obrigatório de Licenciatura????
Procurei
no Google, e achei alguns direitos que amparam o estagiário com
deficiência - mas sem distinção entre o estágio de licenciatura
(em escolas de ensino regular) e os estágios feitos por estudantes
de bacharelado (normalmente, em empresas, repartições públicas,
etc.) Por exemplo: um estagiário, normalmente, pode estagiar no
mesmo local no máximo por 2 anos - mas o estagiário com deficiência
, segundo o que vi na internet, pode pedir prorrogação deste prazo
(já que ele costuma, na PRÁTICA, ter mais dificuldades em
conseguir vaga em outro lugar, possui mais especificidades de
acessibilidade, costuma ter maior "trabalho" ao se
ambientar em um novo lugar devido às suas limitações, pode haver
problemas de locomoção, etc.) Além do mais, todo local que
oferece vagas para estágio É OBRIGADO a ofertar 10% delas a pessoas
com deficiência na época de inscrições.
Fiquei pensativa
sobre o assunto, e gostaria imensamente de saber se isso se aplica
aos estágios de licenciatura em escolas. (TOMARA QUE SIM!!!!) Algum
leitor aí sabe?
Se
você tem necessidades especiais e tá precisando de fazer essas
disciplinas obrigatórias de estágio em escolas de Ensino
Fundamental e Médio, leve estas ideias para o professor
responsável por elas na faculdade, para o coordenador de estágios,
e para o coordenador de curso da sua graduação. Elas são
extremamente úteis a meu ver, pois:
--
como todo mundo sabe, o ambiente de sala de aula da Educação
Básica, repleto de estudantes , digamos, "cheios de energia",
oferece uma certa vulnerabilidade para o estagiário com necessidades
especiais!!! Se o estagiário com deficiência sentiu-se melhor em
uma determinada escola ao realizar o estágio (devido à
estrutura, o perfil dos alunos, o fato de ter como "tutor"
um professor regente que já o conhece e sabe como lidar com ele, já
facilita E MUITO o andamento das atividades), então, por que
insistir forçosamente em trocá-lo de estabelecimento sem motivo
relevante? Há Colegiados de Cursos e Câmaras de Estágios que
recomendam ou estabelecem que os estagiários troquem de escola
periodicamente, para conhecerem realidades diferentes, o que, de
acordo com os objetivos da disciplina, a princípio é válido -
mas, para um estudante com deficiência, que é cheio de
especificidades e vulnerabilidades, seria interessante ter uma
flexibilização nessa regra... até porque, quando este futuro
professor for trabalhar, ele vai escolher um estabelecimento que
encaixe melhor nas suas limitações e habilidades, não é verdade?
:-)
--Em
caso de estagiário com deficiência considerada acentuada (ex:
deficiência visual ou auditiva ou locomotora graves), seria
interessante a possibilidade de a universidade enviar um
acompanhante, oriundo da universidade, para auxiliar o
estudante-estagiário com deficiência e garantir-lhe maior
integridade física. Afinal, do jeito em que está a realidade nas
escolas hoje, corre-se o risco de algum aluno da escola do estágio
aproveitar da vulnerabilidade do estagiário e agir com má-fé,
causando-lhe transtornos... :-(
BOA NOTÍCIA: Já foi me relatado um caso
em que um estagiário cego foi acompanhado pelo seu professor da
faculdade, e que a medida foi bem-sucedida. :-)
--Há
universidades em que o seguro obrigatório, garantido pela
instituição de ensino superior ao estagiário, apenas contempla a
questão da integridade FÍSICA PROPRIAMENTE DITA do estagiário
(despesas médicas, hospitalares ou seguro pra família dele em caso
de falecimento.) No entanto, não contempla segurança de órteses
e próteses acopladas ao corpo de um estudante com deficiência
(pernas mecânicas, artigos ortopédicos em geral, aparelho de
surdez, óculos especiais que sejam raros e caros)!!!!! :-O
E
aí? Os equipamentos mencionados têm custo
elevado, e são de difícil reposição (não só pelo preço, mas
também pela oferta - alguns são importados, e levam muito tempo
para ficarem prontos de acordo com a prescrição do paciente). Sem
contar que, quem adquire esses equipamentos pelo SUS, demora mais
ainda para tê-los (devido aos procedimentos burocráticos que
normalmente são feitos para a aquisição de tais apetrechos). Se
quebrar, como é que fica a reposição de tais itens - que na
verdade acabam por fazer parte da "anatomia" do estagiário
com deficiência? Eles fazem falta não só para o andamento das
atividades acadêmicas, como também para o próprio dia-a-dia da
pessoa que os usa!!!!!! Basta um esbarrão/empurrão de
mau-jeito, ou o ato de ser atingido por algum objeto jogado por algum
aluno da escola ou alguma agressão física, que... o estagiário,
incluindo sua prótese ou órtese de uso contínuo, estão em risco!
Se esses equipamentos estragam, o conserto ou nova obtenção ficam
INTEIRAMENTE POR CONTA DO ESTAGIÁRIO, PELO VISTO!!!!! :-O :-O
Sugestão: as universidades deveriam
tomar providências para que o seguro obrigatório, no caso de
estudantes com deficiência, os ampare adequadamente também... ou
então tomem medidas paliativas enquanto isso não ocorre - tais como
arranjar um acompanhante da universidade para ajudar a minimizar
situações que possam danificar a prótese.
(Por
exemplo: o estagiário com deficiência está explicando um exercício
de matemática para um aluno da escola, e dois outros estão
iniciando uma briguinha ali perto. Como é que o estagiário vai se
sentir tranquilo em explicar o exercício pro aluno, diante da
'ameaça' de levar um esbarrão a qualquer momento? Ele tem de se
"desdobrar" para simultaneamente concentrar em sua tarefa e
ter de ficar atento para se proteger para não ter a prótese ou
órtese atingida - algo que seria minimizado se ele não tivesse o
equipamento... Aí é que entraria o papel do acompanhante - para
ficar atento a isso e alertar o estagiário se necessário,deixando-o
apenas com a "preocupação" de desempenhar a tarefa. )
Ou
então, o professor responsável pela disciplina de Estágio na
universidade poderia reduzir, para esse estagiário com limitações
comprovadas, o cumprimento de sua carga horária dentro de sala (se
ele assim o desejar) - para diminuir a probabilidade matemática de o
estagiário ter seu equipamento danificado no local ... substituindo,
assim, parte da carga horária que seria cumprida em sala, na escola,
por atividades alternativas - tais como atendimentos individuais a
alunos, preparação extraclasse de atividades, ou deixá-lo fazer
pelo menos uma parte do estágio em centros de apoio educacional (com
atendimento individual ou grupos pequenos de alunos) em vez de
escolas regulares com 30, 40 alunos por sala!!
Claro
que essas sugestões por si sós não resolvem totalmente o problema,
mas já ajudam um pouco.
--Em
relação à reserva de 10% de vagas em estabelecimentos para
estágio, destinadas a estagiários com deficiência, vale a pena
verificar se eles valem não só para empresas,mas também para
escolas. Converse com o coordenador de seu curso universitário!!!!
Veja por que tal medida é bastante útil: se as escolas tiverem 10%
de vagas reservadas para estagiários com deficiência, estes
podem escolher mais facilmente a escola em que melhor sentem-se
adaptados para estagiarem, de acordo com suas limitações e
habilidades, bem como a questão do deslocamento até ela, sem
ter de "disputar" pelas vagas com os colegas sem
deficiência (que, por sua vez, naturalmente, escolherão esta ou
aquela escola por questões de comodidade e não de acessibilidade.)
Assim
sendo, um estagiário com deficiência, que se sente melhor em uma
sala de aula de um colégio particular pequeno (com 15 ou 20 alunos
por turma) e que é mais próximo de sua casa ou faculdade, não
precisaria de ficar preocupado em perder essa vaga pro colega sem
deficiência (e que procura esse estabelecimento apenas para maior
comodidade) e ter de enfrentar uma sala de aula com 40 alunos, longe
de casa ou faculdade, tendo um trabalhão para se deslocar.
NOTA:
Mesmo que o estudante com deficiência não tenha dificuldades
físicas de locomoção - tais como deficiência locomotora ou visual
grave- há diversos casos em que ele, se for estagiar em uma escola
mais distante, vai ter de pegar ônibus. E, dependendo do grau e/ou
tipo de deficiência, ele não tem passe-livre ; ou seja, paga
passagem para ir e voltar do estágio... e que é muitas vezes cara.
Levando
em conta que um estagiário com deficiência já tem , por si só,
mais despesas do que um sem deficiência - por causa de troca de
próteses/órteses/manutenção de equipamentos auxiliares para o seu
dia-a-dia - seria ,mais do que justo, priorizar a vaga perto de casa
ou da faculdade para ele, não é? A economia com passagem de ônibus
ajudaria a compensar as despesas inerentes às suas necessidades
especiais - ou seja, o que ele gastaria com ônibus ele pode juntar
para custear novos equipamentos auxiliares, novas tecnologias
assistivas, novos aparelhos que necessitem ser trocados ou levados
para manutenção periodicamente! (A não ser que ele seja
visivelmente "MUITO BOM DE BOLSO", desses de classe
social-econômica bem alta, cujas despesas adicionais com transporte
- carro, táxi, ônibus, etc - somadas às despesas específicas das
suas necessidades especiais não lhe tragam dificuldades
financeiras,né??!!! Mas, em se tratando de uma pessoa com o $$$
"contadinho ali" como a maioria de nós, vale a pena
considerar o benefício proporcionado por essa prioridade! )
Logo,
diante de tudo que foi exposto acima, se você é estagiário com
necessidade especial, não perca tempo: mostre esta página a seu
professor responsável pela disciplina de Estágio Supervisionado,
mostre para o Coordenador de seu curso, mostre para os responsáveis
pelo Núcleo de Acessibilidade de sua universidade, e... bata um papo
com eles! Troque ideias!!! Discutam soluções ou alternativas de
acordo com a realidade da sua universidade!!! Se você realmente
gostar de ser estudante universitário de alguma licenciatura, e
quiser tirar o máximo proveito de seu curso, corra atrás de
direitos que possam turbinar seu desempenho nas atividades
curriculares!
E
então? O que achou das ideias propostas acima? COMENTE!!! É para
trocar ideias mesmo! (Vá que
eu esteja enganada em alguma ideia proposta... precisaria então de
uns toques aqui para reformular o exposto, né???? ) ;-)
Nenhum comentário:
Postar um comentário