Uma das grandes barreiras entre a comunicação escrita de deficientes visuais (DVs) e de pessoas normovisuais é o fato de as letras do alfabeto Braille apresentarem diferenças de formato, se comparadas às letras do alfabeto convencional para normovisuais. Dessa forma, muitas vezes, quando um professor possui um aluno com deficiência visual, torna-se difícil a avaliação de atividades escritas feitas por esse aluno - já que o professor, na esmagadora maioria das vezes, não compreende o que o estudante em questão escreve. A mesma coisa ocorre quando os pais de um estudante deficiente visual têm a intenção de auxiliá-los nas tarefas escolares (tais como deveres de casa e preparação para provas) : como eles vão ajudar seus filhos adequadamente, se o sistema de leitura e escrita dos filhos difere daquele comumente usado pelos pais (isto é, se os pais não forem deficientes visuais)?
Resumindo: pelo fato de as pessoas normovisuais ao redor de um deficiente visual não conhecerem o alfabeto Braille, há uma dificuldade na troca de materiais escritos entre o DV e as pessoas de sua convivência.
Pensando nessa problemática, uma equipe de professores da USP desenvolveu o Projeto "Braille Virtual".
O que é o projeto Braille Virtual?
É um projeto desenvolvido por uma equipe de professores da Faculdade de Educação da USP, com a finalidade de disseminar o Braille para pessoas que... ENXERGAM! Isso mesmo: para afastar aquela ideia de que o "Braille é algo difícil e inacessível", e facilitar a comunicação escrita entre deficientes visuais e normovisuais, à medida em que mais pessoas de visão normal conheçam a técnica!
O projeto consiste em um curso de Braille online, com recursos de animação digital para que pais, professores e amigos de deficientes visuais aprendam o Braille de forma prazerosa.
Conforme texto no site do projeto, "as pessoas que vêem não precisam do tato para ler em Braille. Com o aprendizado do sistema composto por 63 símbolos formados pela combinação de seis pontos em uma célula, o indivíduo que vê pode ler textos em Braille apenas substituindo as letras comuns pela nova simbologia". [1]
O curso é livre e não oferece certificado. Mas é de grande utilidade para as pessoas que convivem com deficientes visuais - ou que desejam aprender, para a eventualidade de um dia conviverem com um deles! :-)
Como começou esse curso?
No início dos anos 2000, a professora Nely Garcia, da USP, percebeu que pouquíssimas pessoas normovisuais conheciam o Braille, ao fazer um trabalho de consultoria para o MEC. Sendo assim, ela acabou por constatar que esse fator iria prejudicar- e muito! - o aprendizado de crianças com deficiência visual. Como, por exemplo, um professor iria corrigir um trabalho escolar de um aluno cego - como uma redação, por exemplo? Nós, licenciandos em matemática, pensaríamos, de maneira análoga: "em um exercício escrito, no qual o professor necessita ler e acompanhar o raciocínio do aluno - bem como o emprego da simbologia correta em um exercício de matemática-simplesmente não teria como o professor atender adequadamente a esse aluno!" Ou seja: se os normovisuais dominassem o sistema Braille, certamente não haveria esse problema...
Sendo assim, a professora continuou trabalhando em suas pesquisas, e , assim, surgiu o software Vide Braille I, que tinha por finalidade ensinar o Braille por meios visuais, com animações virtuais, para que as pessoas que enxergam pudessem aprender Braille. Entretanto, o programa acabou por permanecer desconhecido, pelo fato de as estratégias para divulgação não terem sido eficientes.
No entanto, em 2004, foi criado o Braille Virtual, que foi disseminado através da Internet. Veja o site do Braille Virtual no fim desta postagem! :-) A professora criadora do projeto afirma, em depoimento dado no site da USP [2] , que "hoje, ouvem-se muitos professores que não necesitam mais de terceiros para fazer a transcrição [do alfabeto Braille para o convencional]".
Conforme podemos ver no site da USP ,
"O Braille Virtual foi lançado em 2004 e não contou com nenhuma estratégia formal de divulgação. A existência do site foi repassada entre os interessados via boca-a-boca. Ainda assim, logo nos primeiros meses se pôde perceber um boom nos acessos à página. Já em janeiro de 2005, quando o site do Braille Virtual contava pouco mais de quatro meses, o número de visitas era superior a 15 mil. Hoje, são mais de 320 mil visitantes e uma distribuição de cópias do software que supera o 1,2 milhão.
“O mundo todo está ampliando o acesso ao programa”, conta a professora Tizuko Morchida Kishimoto, também responsável pelo Braille Virtual. Há referências ao Braille Virtual em páginas de empresas e instituições governamentais de diferentes países, sem contar um posicionamento em todas as regiões do Brasil. A adaptação do programa aos idiomas inglês e espanhol levou o Braille Virtual a ser significativamente acessado nos continentes norte-americano e europeu.
Com isso, os depoimentos elogiosos e experiências positivas com o programa se criam em escala exponencial. Os relatos que chegam à equipe da FE trazem frases como “o curso veio de encontro à minha necessidade como educadora”, “nós que temos familiares com deficiência visual sabemos da importância desse trabalho”, e “sou cega e gostaria de parabenizar todos os envolvidos na realização do projeto. Iniciativas como esta são fundamentais se queremos uma sociedade mais inclusiva”.
A diversidade dos elogios reflete a variabilidade do público que chega ao site. Familiares de cegos, educadores, “curiosos”, militantes – embora de diferentes vertentes, pessoas que acreditam na inclusão dos cegos e que também apostam na tecnologia como uma ferramenta eficaz para superar as barreiras costumeiras. Barreiras como a da distância, posta abaixo pela união entre um sistema bem desenvolvido e a disposição de pessoas como o professor Everton Vasconcelos, do interior do Rio Grande do Sul. “Ainda que eu não tenha contato direto com pessoas cegas, acredito que diminuir preconceitos é tarefa de todo educador. Por isso utilizei o Braille Virtual com os meus alunos, e afirmo que todos os professores deviam adotar práticas semelhantes”. [2]
Referências
[1]http://www.braillevirtual.fe.usp.br/pt/index.html
[2]http://www4.usp.br/index.php/educacao/17549-numeros-e-depoimentos-positivos-atestam-sucesso-do-projeto-braille-virtual
QUEM DISSE QUE ESTUDANTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS NÃO PODEM, TAMBÉM, SE "DIVERTIR" COM AS CIÊNCIAS EXATAS??? :-) Se você procura ler algo sobre Deficiência Visual, Síndrome de Irlen, Deficiência Auditiva, Deficiência Locomotora e... enfim, quaisquer conteúdos sobre Inclusão & Acessibilidade, seu lugar é aqui!!!! "Chegue mais!"
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Olá,
ResponderExcluirFico lisonjeada em saber que gostaram do meu blog, e mais lisonjeada ainda por ver que colocaram como link no blog de vocês. Eu ainda não li tudo no Sopa de Números, mas gostei de diversos textos, achei deveras interessante e informativos. Coloquei como link no meu blog também e gostaria de pedir a vocês se posso utilizar alguns textos de vocês para colocar no meu blog, claro que com fonte e créditos dado a vocês, jamais assumiria autoria de algo que não é meu.
Parabéns pelo blog.
Abraços...