segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

GUEST POST: CONVIVENDO COM A BAIXA VISÃO

Por: Débora Rossini

Oooopa!!! Recebi por e-mail este interessante depoimento de um rapaz de 23 anos que possui deficiência visual (baixa visão). De uma forma leve e descontraída, ele conta sua trajetória desde o nascimento, sua vida na escola e nos centros de apoio especializado, até o fim do ensino médio e sua colocação no mercado de trabalho!!! Vai aí, dirigido a ele, o meu ''muito obrigada!" à colaboração!!! Com a palavra, o internauta!!!! :-D

''Universo: a grande maioria das pessoas o define como algo imenso envolvendo galáxias, planetas, estrelas em uma absoluta sincronia.Mas seria possível existir universos peculiares para cada indivíduo ??
Nasci prematuramente na noite de 19 de Janeiro de 1994. Em meio a choros e gritos: mal sabia dos desafios que iria enfrentar num futuro ainda próximo. Comecei a ter dificuldades visuais aos quatro meses de vida e aproximadamente aos seis: leves convulsões, que quando era criança eram definidas como terror noturno e que com o passar do tempo ficaram mais frequentes.  

''Acredito ser bem mais complicado do que simples entender o que é visão subnormal. Você não enxerga letras; mas enxerga o ambiente a sua volta; mas... Não enxerga direito as pessoas que estão nele; atropela objetos à frente (próximos), mas finge que nada aconteceu ou simplesmente diz "Não vi isso!" Aí quem está perto, não entende. Se for visão subnormal de nascença; quanto perguntam se/como você enxerga; você diz que enxerga bem, mas como você não tem ideia do que é "enxergar bem"; esse é apenas o seu ponto de vista....literalmente. Uma coisa normal... só pra você! Dá uma impressão de que você enxerga apenas o que quer ver. E no meu caso ainda tem meu olho esquerdo que contrariou a "regra" existente em outras pessoas e pediu contas bem mais cedo. Agora só quer saber de sombra e colírio fresco!! Ele deveria se solidarizar com seu "dono" e voltar ao trabalho, deveria me ver como exemplo, mas o cara não quer enxergar a realidade! Fazer o que...?” (em 12 de outubro de 2015).

Depois de uma aparente conjuntivite, foi descoberto que eu havia perdido a visão do olho esquerdo totalmente e grande parte do olho direito. Quando completei dois anos: através de indicação medica, fui descoberto por professores do ISMEC (Instituto sul mineiro de educação para cegos) atualmente CENAV (Centro de educação e apoio às necessidades auditivas e visuais) onde aprendi o braile e participei de informática e esportes adaptados, além de ser voluntário repassando meus conhecimentos para novos alunos. Trocamos experiências e juntos derrubamos nossas barreiras, acreditando que chegaremos ao nosso objetivo.
Entrei na escola aos cinco anos. Meus pais foram advertidos de que provavelmente eu não conseguiria acompanhar o ritmo da turma. As coisas foram bem mais fáceis do que eles pensavam. Tive bons professores e bons colegas. Trago boas lembranças dessa fase. Sempre tive um bom relacionamento com as letras, o que para muitas crianças é difícil. Para mim é prazer. O período de alfabetização não me assustou.

Tudo caminhava bem, eu arrastava a carteira pra lá e pra cá para me aproximar do quadro negro. Me ajudava muito quando algum professor ditava a matéria. Por volta da sexta série, meus professores perceberam que apesar de uma limitação motora (Tenho dificuldades em movimentar meus dedos da mão direita, mas sou canhoto) eu tinha habilidade para desenhar. Fui encaminhado para o CEDET; centro que trabalha com alunos de altas habilidades. Através da orientação de facilitadores e professores do centro, percebi que tinha facilidade com comunicação escrita. No CEDET, tive aulas de inglês, literatura, desenho, pintura em tela dentre outros.

Por volta dos quinze anos, comecei um tratamento medico por conta de epilepsia, que hoje, graças a Deus está melhorando cada vez mais. Quando conclui o ensino fundamental e iniciei os estudos no ensino médio, apesar de meus colegas de classe sempre me ajudarem, comecei a enfrentar dificuldades principalmente nas matérias da área de exatas. Lembro que em algumas aulas de matemática não conseguia acompanhar. Algumas vezes o professor copiava a matéria para mim e eu fazia prova junto com colegas. As dificuldades minimizaram quando a escola contratou uma professora de apoio que ditava para mim o que estava escrito na lousa, ampliava material indicado e adaptava conteúdos da aula para melhor  compreensão.

Quando terminei o ensino médio, a vontade de cursar no ensino superior se misturou a  de trabalhar e duvidas surgiram, principalmente quanto a um futuro emprego Eu seria capaz de conseguir? A  enorme dúvida gerou uma tentativa de deferimento ao beneficio de prestação continuada   da lei orgânica da assistência social. Tempos depois consegui uma oportunidade de trabalho onde sou visto como exemplo de superação, apesar de estar me superando todos os dias.

Gostaria de aproveitar para agradecer a Deus; a minha família e a todas as pessoas que fizeram esse trajeto comigo. Minha historia não termina aqui. Pretendo chegar a universidade com a mesma garra e entusiasmo em que vivi até agora! " 

E você, que está lendo? Gostou do texto? Se identificou com ele? Quer compartilhá-lo com algum amigo ou parente? Fique à vontade! =D E deixe também seu ''pitaco" nos comentários!!! =D

VOCÊ TAMBÉM POSSUI ALGUMA DEFICIÊNCIA/DOENÇA CRÔNICA/NECESSIDADE ESPECIAL E QUER VER TAMBÉM SUA HISTÓRIA AQUI? Funciona assim: Envie para cá um email ( sopanumeros@gmail.com ), com o título ''GUEST POST Sopa de Números" no campo de ''assunto" , e contando sua história. Caso você não queira se identificar, apesar de querer compartilhar a história (como já aconteceu com outros posts deste blog), não faz mal! Sua identidade será preservada (a não ser que você explicite o desejo de se identificar, ao longo do texto, hehe.) Mãos ao teclado!!! ;-)  

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