domingo, 31 de julho de 2011

"Passei no vestibular... EM OUTRA CIDADE!!! E agora?" - Parte 1

Por: Débora Rossini


Se você é um estudante com necessidades educacionais especiais e foi aprovado no vestibular (ou selecionado pelo ENEM) numa faculdade ou universidade em cidade diferente da que você mora... e se a distância entre essas duas cidades não permite que você vá e volte todo dia, obrigando-o a mudar para o município em que a sua universidade se localiza... relaxe: este post foi escrito para você mesmo!!!!!!


Certamente,se você pertence à galera que possui algum tipo de necessidade educacional especial, sua cabeça deve estar cheia de dúvidas e incertezas, independentemente de você ser "calouro" ou "veterano": enquanto os primeiros estão ingressando em um mundo totalmente novo e desconhecido, os segundos enfrentam diversas dificuldades cotidianas há tempos... e, nem sempre, têm com quem trocar ideias ou perguntar algumas coisas...! Então, o "Sopa" taí para dar uma forcinha a você neste sentido!!!!


As dicas e sugestões aqui apresentadas são dirigidas a estudantes com deficiência visual - uma vez que quem elaborou as dicas com base na própria experiência fazia parte da galera que possui problemas com a potência dos "zóio"... rerrerré!!! Mas, se você tem deficiência de outra categoria (isto é, auditiva, motora, etc.), pegue as dicas como modelo e vá adaptando de acordo com a sua realidade física ou sensorial! ;-) É importante frisar que todo mundo com algum tipo de deficiência tem algo em comum: o fato de enfrentar um número grande de adversidades, de dificuldades e de preconceito. No entanto, as especificidades para atender às necessidades de alguém com deficiência varia de caso para caso, de pessoa para pessoa. Então, aproveite as dicas abaixo, e adapte-as como for mais adequado para você!


Sendo assim, partindo do princípio que os leitores alvo deste texto são deficientes visuais (cegos ou com baixa visão), vamos lá?


Em primeiro lugar, tente informar-se sobre a cidade na qual você vai morar! Aliás, que tal conhecê-la, antes de as aulas começarem? Procure saber se ela:


1)É grande, média ou pequena?


2)Considerando as questões topográficas, espaciais e de oferta de transporte público, a locomoção, para uma pessoa cega ou com visão subnormal, é fácil? Como é a questão da segurança?


3)Ao visitar a cidade para conhecê-la, você consegue perceber se as pessoas são mais receptivas a pessoas com deficiência ou costumam ser mais "fechadas" e/ou preconceituosas? (Claro que este fator, por si só, NÃO DEVE ser decisivo para aceitar ou recusar morar na cidade!!!!! Mas a percepção deste fato irá ajudá-lo bastante na hora de você elaborar estratégias para abordar pessoas na hora de fazer atividades ou resolver problemas que, devido à sua deficiência visual, você precise de ajuda);


4)Na hora de procurar um pensionato estudantil, casa de família que aluga quartos, ou república: faça questão de conversar bem com as pessoas que ali moram ou gerenciam a moradia; e observe bastante como elas reagem à sua falta de potência visual! Isto porque, ao dividir um teto com pessoas, você está de certa forma, involuntariamente, compartilhando um pouco de sua intimidade com tais indivíduos que, até então, você nem sabia que existiam! Se você notar que elas te aceitam bem, aí considere a possibilidade de morar ali (e, obviamente, avalie também os outros fatores que todo mundo deve "pôr na ponta do lápis", tais como localização, despesas, etc). Se, pelo contrário, você perceber que tais pessoas não têm um pingo de preparo para lidar com "ceguetinhas" (risos), não perca tempo: descarte a possibilidade e procure outra moradia! Vale muito mais a pena gastar sola de sapato e procurar um lugar com pessoas mais tolerantes, do que ficar passando raiva com gente que não vai te compreender e ainda, por preconceito ou pura falta de informação, vai ficar falando besteira que você, nem de longe, não merece ouvir!!!!


4) Outra sugestão: se possível, prefira quarto individual. Afinal de contas, dividir quarto com alguém implica na frequente possibilidade de o colega, que é normal das vistas, deixar coisas fora do lugar ou mudar objetos de lugar - o que, para um "ceguetinha", é um "saco"! Além de não achar as coisas (já que as pessoas com pouca ou nenhuma visão localizam objetos é pela memorização e orientação espacial, o que obriga a ter organização), corre-se o risco de acidentes, pelo fato de algum móvel ou objeto ser esquecido fora do lugar... e, consequentemente, a pessoa que não enxerga trombar ou escorregar nele!!!!


Importante: se você é cego total, isso vale também para a organização e localização de roupas em seu armário. Guarde tudo no mesmo lugar; e, pela memorização das peças, você já terá em mente quais camisas podem ser utilizadas com quais calças (tanto pelo modelo ou cor) , a fim de evitar combinações inadequadas e consequentes constrangimentos. Numa primeira arrumação do armário, caso ache necessário, peça ajuda a algum normovisual para fazer a organização das peças; e, a partir daí, memorize a localização e a identificação!


Além disso,com um quarto individual você ficará muito mais a vontade para estudar, já que materiais didáticos em áudio, frequentemente usados pela galera que não enxerga, pode incomodar seu colega de quarto que é normovisual, que quer é silêncio para estudar ou dormir... e o uso constante, frequente e contínuo de fones de ouvido, pode prejudicar sua audição a longo prazo! Como seus ouvidos fazem papel de ouvido e de olho ao mesmo tempo - a menos que você tenha surdocegueira-, é fundamental que você preserve sua potência auditiva!!! (Veja detalhes no nosso post "Conserve o que você tem... e já!", clicando aqui). Máquinas Braille e reglétes também fazem um certo barulho quando o usuário escreve... o que pode deixar diversos normovisuais, que não estão acostumados com tais apetrechos, incomodados com os ruídos.


5) Normalmente, os pensionatos e casas de família estabelecem normas quanto ao bom comportamento; entre elas, a questão do barulho excessivo -como música alta- e proibição de festas (ótimo para quem quer é estudar!!!!). Mas, caso você opte por morar em república, verifique qual o comportamento e regras estabelecidas em relação a isto. Oras, você é deficiente visual e precisa de um lugar com o mínimo de ruídos externos, para você conseguir ouvir seus audiolivros e suas apostilas e anotações por meio de leitor de telas ou gravações. Então, se houver ruído externo, "competindo" e interferindo no som do seu computador ou reprodutor de áudio, fica impossível estudar, né? Você não irá conseguir ouvir o que precisa, ali!!!! Então, pense nisso também!!!


6) Caso você já tenha escolhido sua república ou pensionato, com todos os quesitos favoráveis a você, lembre-se: as pessoas que ali moram têm alta probabilidade matemática de nunca terem tido oportunidade de conviver com um deficiente visual. Então , por mais legais que elas sejam , podem ocorrer situações nas quais elas,involuntariamente, cometam algum deslize, ofendendo-o SEM QUERER. Em casos assim, procure "relevar" o fato, mas EXPLIQUE por que você, de vez em quando, faz as coisas um pouquinho diferente deles ou, inadvertidamente, esquece algo fora do lugar. Simples: é que você não enxerga como eles, então , certas coisas ao seu redor que exigem habilidades visuais ficam fora da sua percepçaõ!!! Você não tem culpa, claro! Rerrerré! Mas procure minimizar a ocorrência disso o máximo possível, para evitar atritos. Po exemplo: está comendo? Então, deixe seus utensílios o máximo possível próximo de você, de forma que seu tato (ou campo visual, caso você tenha), permita a localização de tudo,para depois lavar, enxugar e guardar, sem que fique algo para trás...! O ato de deixar algo fora do lugar , mesmo que involuntariamente, acabará fazendo com que as outras pessoas te chamem (injustamente!) de esquecido, desorganizado, ou relaxado!


7) Se, mesmo com todas as dicas acima, uma moradia que pareceu ser legal para você nos primeiros meses tornar-se cansativa para se conviver, relaxe: você não é obrigado a permanecer nela até o fim do curso universitário! Claro que diversas moradias têm um contrato que estabelece tempo mínimo de permanência (variável entre uma e outra). Assim sendo, ao término de cada prazo, pense: convém renovar o contrato de permanência, ou será que é hora de mudar de residência? Isso não ocorre só entre pessoas com deficiência não; entre os "ditos 'normais' ", isso ocorre também!!! Afinal, todos -com ou sem deficiência- são PESSOAS; e, sempre, entre PESSOAS, há diferenças - de temperamento, de culturas (ainda mais em moradias estudantis, onde cada pessoa vem de uma região diferente!), de valores... ok?


8) Pressupõe-se que, se você participou de um processo seletivo em uma universidade situada em uma cidade longe da sua, com certeza você domina habilidades de AVD (Atividades da Vida Diária)... afinal, vai ter de morar longe da família, e vai ter de saber "se virar" longe da mamãe! Rerrererrerré!!!! Mas, se ainda assim, acredita não ter muita desenvoltura para fazer as atividades da vida diária com maior independência, está aí uma ótima oportunidade para matricular-se em um curso de AVD específico para deficientes visuais! Em diversos centros de apoio para pessoas com comprometimento visual, há esse tipo de curso. Informe-se sobre algum, que fica mais perto de onde você mora, e... aproveite!!!!!!


Então...! Depois de ler ou ouvir as dicas acima, elaboradas por alguém que vivenciou a experiência de ser universitária, deficiente visual e em uma cidade longe da de origem, agora é sua vez!!! "Bóra" fazer as malas e cair na estrada!!!! Vamos estudar, galera!!!!! Mas peraí: se você é um estudante que, além de deficiente visual, tem poucos recursos financeiros e precisa de morar no alojamento estudantil de sua universidade - em vez de pensionato ou república, por causa das despesas- , leia o próximo post, que é a "Parte 2" deste. Ou você acha que o "Sopa" esqueceu deste público, heim? Rerrerré!!! Claro que não!!!!!

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